sábado, 19 de julho de 2014

O que preciso para chegar ao fim do dia


O padeiro fez o pão de madrugada e um rapaz entregou-o em minha casa para poder tomar o café da manhã.
O motorista e o trocador do ônibus, o fiscal de controle da empresa e muitos outros me levaram ao trabalho.
Alguém abriu o prédio onde está o meu escritório, outra limpou o andar e o meu banheiro. Preparam o café, acertaram o ar-condicionado, trocaram a lâmpada queimada. Alguém manteve o servidor no ar para eu usar o computador. A secretária cuidou da agenda e recebeu a correspondência que o carteiro trouxe lá da central de triagem.
Chegaram bem cedo no restaurante, esfregaram o chão, limparam as cadeiras, cozinharam e me serviram o almoço. O almoço tinha salada cujos legumes alguém plantou, colheu e transportou.
Reparei que alguém limpou a calçada e a rua quando voltava para o escritório. Lá no banco os funcionários cuidavam da agência e com a ajuda de máquinas alguém, vai saber onde, garantiu que eu fizesse um saque em moeda sonante.
Na visita que fiz ao cliente, o taxista me levou em seu carro, construído por muitas máquinas e pessoas e abastecido em um posto de gasolina onde um frentista estava lá o dia inteiro nos esperando.
De volta para casa notei que os postes de iluminação pública se acendiam com o entardecer. Pensei em quantos estariam por trás disso... Antes de entrar no prédio passei na farmácia onde uma gentil senhora me entregou um remédio que alguém bolou, outro fabricou e um terceiro trouxe até a loja. Outra gentil senhora recebeu meu pagamento no caixa. Deve morar longe.
A filhinha do porteiro é muito criança e ainda não estuda, mas tem um sorriso muito bonito que me ajuda a vencer o cansaço de um dia de trabalho.
Em casa senti o cheiro de comida saborosa que alguém ficou à tarde me preparando em uma cozinha quente. Mas só jantei depois de tomar uma ducha cuja água alguém tratou e encanou.
Já sonolento liguei um pouco a tevê. Ali estavam centenas de pessoas me trazendo notícias dos quatro cantos do mundo.
Consegui chegar ao final do dia.
Eu não sou um self-made man.

A todos – incluindo os que esqueci – o meu muito obrigado.

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