Robert Hoge nasceu em
1972 com as pernas deformadas e um tumor no rosto. É o quinto filho de Mary e
Vince Hoge. Sua mãe estava decidida a não trazê-lo para casa após dar a luz no
hospital.
Mary viu seu filho
deitado no berço com um tumor grande, do tamanho de uma mão no meio da cara,
olhos deslocados, pernas tortas e não aguentou. A atitude de rejeição não é o que
se espera de uma mãe quando vi o filho pela primeira vez, mas Robert, seu
filho, a compreende: “Quando uma criança nasce todos os pais esperam encontrar
uma criança linda e perfeita. Acho que a reação da minha mãe foi bastante natural.
Choque, raiva, rejeição e, aos poucos, ela foi aceitando.”
Alguém na maternidade sugeriu para Mary entregar o filho a um orfanato sem sequer vê-lo antes. Mas, após uma dura luta
interior e uma reunião com os demais filhos, decidiu trazer o menino
para casa.
A mãe de Hoge já é
falecida, mas ele conserva o diário em que ela anotou todas as suas angústias,
medos, frustrações e dúvidas. “Nós dissemos às crianças – ela escreve - como
Robert tinha nascido, seu rosto, suas pernas. Perguntamos a cada um
separadamente se deveríamos trazê-lo para casa ou não.”
“Ninguém hesitou. Cada
um dos meus filhos tinha por certo que devíamos trazer o Robert para casa. Diferente de mim, a
decisão de cada um dos meus filhos foi um sim sem reservas.”
Tremendamente sincera,
o diário documenta também que, a partir do momento em que trouxe o filho para a
casa, ela foi uma mãe devota e entregue.
O diário não era algo
secreto ou reservado ao casal. Todos em casa podiam ler e, de fato, o liam com frequência.
Em uma anotação de abril de 1978 lê-se: “Mãe, você podia ler de novo para mim
como você não queria me trazer para casa?”.
E Mary foi além.
Decidiu publicar o diário junto com um depoimento. E por um motivo concreto: “Será
bom – dizia – porque isso vai acontecer com outras mulheres e elas devem saber
que essa reação que tive é uma reação natural”.
Com quatro anos de
idade, Hoge passou por uma série de cirurgias de reconstrução facial.
Conseguiram moldar seu rosto para que conseguisse pelo menos enxergar
corretamente. Mas como em todas essas operações havia o risco de ficar cego ou
até morrer, com 14 anos Robert Hoge decidiu não entrar mais na sala de
cirurgia. A opinião do irmão, Michael, foi importante nessa etapa: “De que
adianta tentar ficar bonito se vai acabar cego?”.
Encontrando
beleza na feiura.
Ao chegar a idade
adulta Hoge fez carreira na mídia. Primeiro como jornalista, depois como
consultor de mídia para políticos australianos. Ele é respeitado por onde quer
que trabalhe. A prefeita de uma cidade com quem trabalhou comenta que “o mais
extraordinário é que, trabalhando perto dele, rapidamente deixei de notar sua
aparência. Acho que isso se deve ao fato de ser uma pessoa de grande
inteligência e também carismática.”
Aos 40 anos,
casado e com um filho, Robert Hoge pensou que era hora de contar sua história.
Um oportunidade para falar do papel da beleza na sociedade atual. “Trata-se de
falar sobre deficiências, sobre beleza e sobre feiura e acho que a pessoa mais
indicada para isso sou eu”. Kate, sua esposa, pensa que o livro que Hoge
publicou “ajuda a dar uma ideia de como a beleza e a feiura dominam as pessoas.
E acho que a experiência dele não é diferente das outras pessoas. Passou por
uma adolescência difícil, quando se sentiu feio e deslocado, mas sobe
ultrapassar essa fase”.
A história de Robert e
sua mãe, Mary, é uma excelente oportunidade para entender que os sentimentos
que experimentamos não nos devem humilhar. Não somos o que sentimos. Antes importa
a atitude que decidimos tomar ante as situações.
Toda diferença choca.
Disso não escaparemos. Basta sair para a rua vestido de forma diferente para
perceber isso. Quanto mais se temos estragada a face, onde se reúne toda a
nossa expressividade e é como uma janela
para o nosso interior. A imensa maioria não somos chocantes como Robert. Mas
nos serve a carapuça. Mesmo os “normais”, os “comuns” somos convidados a se
compararem com os “perfeitos”, com figuras irreais feitas de photoshop. Convencidos de que não
teremos lugar ao sol, inseguros, lançamo-nos a busca de produtos que prometem fazer-nos
felizes.
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