Qual o verdadeiro desafio em manter
uma sociedade livre e vigorosa? Talvez parece surpreendente mas o famoso e
pouco lido Moisés possa nos inspirar. Eis o que diz ao seu povo quando está
prestes a entrar na terra prometida:
Não suceda que, depois de teres comido à saciedade, de teres
construído e habitado formosas casas, de teres visto multiplicar teus bois e
tuas ovelhas, e aumentar a tua prata, o teu ouro e o teu bem, o teu coração se
eleve, e te esqueças do Senhor, teu Deus, que te tirou do Egito, da casa da
servidão. Foi ele o teu guia neste vasto e terrível deserto, cheio de serpentes
ardentes e escorpiões, terra árida e sem água, onde fez jorrar para ti água do
rochedo duríssimo; foi ele quem te alimentou no deserto com um maná
desconhecido de teus pais, para humilhar-te e provar-te, a fim de te fazer o
bem depois disso.
Não digas no teu coração: a minha força e o vigor do meu
braço adquiriram-me todos esses bens. Lembra-te de que é o Senhor, teu Deus,
quem te dá a força para adquiri-los, a fim de confirmar, como o faz hoje, a
aliança que jurou a teus pais. Se, esquecendo-te do Senhor, teu Deus, seguires
outros deuses, rendendo-lhes culto e prostrando-te diante deles, desde hoje vos
declaro que perecereis com toda a certeza.
Você pensa que uma vez que atingiu
seus objetivos, obteve conforto e segurança, tudo está resolvido. Lego engano.
Agora é que o desafio vai começar.
O verdadeiro desafio não é vencer a
pobreza, mas não se estragar com a opulência. O perigo não é tanto a
insegurança, mas a segurança. Não é a tirania, mas a liberdade. Esta é uma lei
da história. Todas as civilizações que se tornaram ricas e poderosas, resvalaram
para a luxuria, o comodismo e a indiferença. Povos menos civilizados, porém,
unidos, disciplinados e espiritualmente sadios estavam prontos para assumir a
hegemonia.
Bertrand Russell também reconhece que
na Grécia antiga e na Renascença italiana as sementes da decadência estavam
presentes em meio a glória que conquistaram.
O que aconteceu nesses dois
momentos: os códigos morais desapareceram porque eram exigentes e foram
associados à superstição; o individualismo levou essas civilizações à anarquia,
à falta de coesão social e se tornaram impotentes ante os inimigos. E não é
só Moises e Russell que estão de acordo. Podemos convidar também Alexander Solzhenitsyn,
Dostoievsky, Allan Bloom, Ortega y Gasset, Shakespeare e muitos outros.
Como é possível evitar – ou ao menos
adiar – essa decadência?
1.
Nunca
esquecer de onde viemos.
2. Não
romper com os princípios e valores que fundaram nossa civilização. Há um poder
maior do que nós mesmos.
3.
Quando
se perde a religião ficamos à mercê de todo tipo de bandidos ideológicos.
O discurso recente de um membro da
Academia Chinesa de Ciências Sociais pode ajudar o Ocidente a reconhecer suas
chagas. Seu pensamento representa um think
tank que procura entender porque a China foi ultrapassada pela Europa no
século XVII.
Inicialmente, pensamos
que fossem as armas. O Ocidente dispunha de um armamento tecnologicamente
superior. Depois pensamos que fosse o sistema político. Aprofundamos mais e concluímos
que era o sistema econômico. Mas nos últimos 20 anos percebemos que o fator
chave foi a religião. Foi o fundamento judaico–cristão, com sua repercussão
social e cultural na vida europeia que tornou possível o capitalismo e a
democracia.
Este
post é inspirado em um artigo do rabino Jonathan Sacks (rabbisacks.org)
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