segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Porque as civilizações sucumbem


Qual o verdadeiro desafio em manter uma sociedade livre e vigorosa? Talvez parece surpreendente mas o famoso e pouco lido Moisés possa nos inspirar. Eis o que diz ao seu povo quando está prestes a entrar na terra prometida:
Não suceda que, depois de teres comido à saciedade, de teres construído e habitado formosas casas, de teres visto multiplicar teus bois e tuas ovelhas, e aumentar a tua prata, o teu ouro e o teu bem, o teu coração se eleve, e te esqueças do Senhor, teu Deus, que te tirou do Egito, da casa da servidão. Foi ele o teu guia neste vasto e terrível deserto, cheio de serpentes ardentes e escorpiões, terra árida e sem água, onde fez jorrar para ti água do rochedo duríssimo; foi ele quem te alimentou no deserto com um maná desconhecido de teus pais, para humilhar-te e provar-te, a fim de te fazer o bem depois disso.
Não digas no teu coração: a minha força e o vigor do meu braço adquiriram-me todos esses bens. Lembra-te de que é o Senhor, teu Deus, quem te dá a força para adquiri-los, a fim de confirmar, como o faz hoje, a aliança que jurou a teus pais. Se, esquecendo-te do Senhor, teu Deus, seguires outros deuses, rendendo-lhes culto e prostrando-te diante deles, desde hoje vos declaro que perecereis com toda a certeza.
Você pensa que uma vez que atingiu seus objetivos, obteve conforto e segurança, tudo está resolvido. Lego engano. Agora é que o desafio vai começar.
O verdadeiro desafio não é vencer a pobreza, mas não se estragar com a opulência. O perigo não é tanto a insegurança, mas a segurança. Não é a tirania, mas a liberdade. Esta é uma lei da história. Todas as civilizações que se tornaram ricas e poderosas, resvalaram para a luxuria, o comodismo e a indiferença. Povos menos civilizados, porém, unidos, disciplinados e espiritualmente sadios estavam prontos para assumir a hegemonia.
Bertrand Russell também reconhece que na Grécia antiga e na Renascença italiana as sementes da decadência estavam presentes em meio a glória que conquistaram.  O que aconteceu nesses dois momentos: os códigos morais desapareceram porque eram exigentes e foram associados à superstição; o individualismo levou essas civilizações à anarquia, à falta de coesão social e se tornaram impotentes ante os inimigos. E não é só Moises e Russell que estão de acordo. Podemos convidar também Alexander Solzhenitsyn, Dostoievsky, Allan Bloom, Ortega y Gasset, Shakespeare e muitos outros.
Como é possível evitar – ou ao menos adiar – essa decadência?
1.        Nunca esquecer de onde viemos.
2.      Não romper com os princípios e valores que fundaram nossa civilização. Há um poder maior do que nós mesmos.
3.        Quando se perde a religião ficamos à mercê de todo tipo de bandidos ideológicos.
O discurso recente de um membro da Academia Chinesa de Ciências Sociais pode ajudar o Ocidente a reconhecer suas chagas. Seu pensamento representa um think tank que procura entender porque a China foi ultrapassada pela Europa no século XVII.
Inicialmente, pensamos que fossem as armas. O Ocidente dispunha de um armamento tecnologicamente superior. Depois pensamos que fosse o sistema político. Aprofundamos mais e concluímos que era o sistema econômico. Mas nos últimos 20 anos percebemos que o fator chave foi a religião. Foi o fundamento judaico–cristão, com sua repercussão social e cultural na vida europeia que tornou possível o capitalismo e a democracia.

Este post é inspirado em um artigo do rabino Jonathan Sacks (rabbisacks.org)

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